6. Monografia – O Açor

Optámos nesta Monografia um estilo algo diferente do usado nas anteriores, realçando a nossa experiência durante a tomada de fotos no abrigo.

No ano de 2016 o nosso primeiro objectivo, no que respeitou a fotos de abrigo, foram o Peto-real, Pica-pau-malhado-grande, Pica-mau-médio e, também, o Dom-fafe. Esta missão fotográfica serviu ainda de pretexto para visitar os Picos da Europa e arredores, que estavam magníficos, com muitíssima neve. Seguiram-se o Quebra-ossos, em Buseu, perto de Lérida e as Gangas e Cortiçóis, em Belchite, perto de Saragoça.

Procurámos depois fotografar as grandes águias peninsulares. Conseguimos bons resultados com a Águia-imperial, a Águia-real e a Águia-de-Bonelli.

Com estas etapas cumpridas, estabelecemos como objectivo seguinte o Açor.

Açor macho

O Açor – Accipiter gentilis (Azor común, em espanhol, Northern Goshawk, em inglês, Autour des plombes, em francês) é uma ave de rapina de médio porte, com marcado dimorfismo sexual (macho c=48cm, env=135cm; fêmea c=62cm, env 165cm). As fêmeas são maiores que uma águia de asa redonda.

Os Açores têm cauda comprida e asas largas. Frequentam zonas arborizadas onde se alimentam de aves (perdizes, pombos, tordos, etc.) e coelhos. Têm hábitos muito discretos. Trata-se mesmo de uma espécie que é difícil de avistar. Até agora, apenas tínhamos conseguido vislumbrar um casal poisado muito ao longe, em Monfragüe.

O Açor é silencioso fora da época de reprodução. Durante a época de reprodução, o canto ouve-se sobretudo ao alvorecer.

Fizemos uma cuidadosa pesquisa na net e, a partir da informação obtida, optámos por contactar Salva Llavata, o responsável por um abrigo da Turia Hides, próximo de Valência, Espanha. Ficámos bem impressionados com os primeiros contactos via email com Salva Llavata e resolvemos agendar a viagem como primeira expedição de 2017.

De Lisboa ao local são cerca de 900 km, mas a viagem faz-se com facilidade numa única tirada, apenas com pequenas pausas para petiscar e descansar. As estradas são boas e em Espanha não tivemos portagens.

Foi-nos recomendado pelo nosso guia um hotel em Lliria, que se revelou bem agradável. Tínhamos combinado que, uma vez que o macho e a fêmea do Açor são claramente diferentes, considerávamos como objectivo fotografar os dois géneros. Para isso estaríamos dispostos a fazer várias idas para o abrigo.

Ficou combinado que nos encontraríamos no dia a seguir à nossa chegada, num ponto bastante perto do hotel, às 7 horas da manhã (hora de Espanha). Para nossa grande decepção e surpresa, verificámos que as previsões meteorológicas para esse dia, que anteriormente tinham sempre sido boas, passaram desde a véspera a incluir alguma precipitação. Ficámos a temer o pior.

À hora combinada, no ponto de encontro, mudámos nós e o equipamento necessário para o carro do guia e dirigimo-nos, por caminhos rurais complicados mas facilmente transitáveis, para o abrigo. Nesta zona, em Janeiro, às 7 horas é noite cerrada. De acordo com as previsões o céu estava bastante nublado.

Estacionámos a uns 30 m, ainda de noite, e com pequenas lanternas, fizemos o caminho para o abrigo. Os espanhóis usam o termo “hide”, lido “aide” como em inglês, para se referirem a estes esconderijos para fotografia.

O abrigo de reduzidas dimensões, estava muito bem camuflado e disfarçado no ambiente florestal. Ainda que com pouca altura era confortável e tinha boas cadeiras. Montámos as câmaras nos tripés usando as lanternas o menos possível e cobrindo a luz com a mão. O guia colocou como isco uma perdiz. Depois limpou por dentro e por fora o vidro espelhado. Montou também uns pequenos ventiladores a pilhas para evitar que o vidro se embaciasse. Explicou-nos que os Açores tinham hábitos crepusculares, que gostavam de caçar “entre-luces” e que seria de esperar que baixassem muito cedo. A fêmea era, em geral, mais confiante que o macho. Talvez fosse necessária uma segunda ida ao abrigo, durante a tarde, para ter mais hipóteses de o fotografar, usando mais isco depois de a fêmea estar saciada. Testámos o contacto telefónico por SMS e o guia deixou-nos.

Devido à pouca luz ainda não se via quase nada e as câmara eram completamente incapazes de focar.

Mas, lentamente, a manhã foi nascendo e começou a ser possível usar o auto-foco da Canon EOS 7D Mk II. Após alguns ensaios verifiquei que conseguia fotografias aceitáveis dos troncos de árvores vizinhas se utilizasse uma sensibilidade de 6400 ISO.

Pelas 8h baixou um açor que reconhecemos como sendo a fêmea.

Era espectacular mas, com aquela luz, a fotografia não iria ser fácil.

Comecei então a fotografar a 6400 ISO. A Luísa com a Canon EOS 7D, tentava usar menor sensibilidade, optando pelos 2500 ISO.

Esta é uma das primeiras fotografias do dia, às 8h 2m, com f 5.6; 1/15 s a 6400 ISO.

Açor fêmea

Com este tempo de exposição só podíamos fazer fotos quando a ave estava completamente imóvel o que era raro. Afinal, ela estava ali porque queria comer.

Algum tempo depois a fêmea do Açor começou a lançar uns gritos que nos pareceram de alarme e a piar repetidamente. Percebemos que era o sinal de que o macho se aproximava mas que não era bem vindo para partilhar a presa. O macho, mais pequeno do que a fêmea, teve de se afastar e ir procurar outro local de poiso, na vizinhança, mas longe da perdiz.

Açor fêmea

Parece que nos Açores a violência física de género tende a ser exercida pelo mais corpulento. Nisto não são originais.

O macho desceu às 8h 49m. Ainda que mais pequeno, era ainda mais impressionante do que a fêmea.

Açor macho

Já se podia então usar 4000 ISO de sensibilidade na 7D II.

O macho deteve-se apenas menos de um minuto, mas a oportunidade não foi desperdiçada e fizemos algumas fotos interessantes. Já tínhamos, portanto, obtido fotos da fêmea e do macho. Restava esperar por outras ocasiões que se revelassem ainda melhores.

A fêmea continuava entretanto a comer, em grande actividade, despedaçando a perdiz e levantando muitas penas pelo ar. Nas condições de pouca luz existentes esta grande actividade dificultava a fotografia. Mesmo mantendo os 4000 ISO, muitas fotos ficavam inaceitavelmente tremidas devido aos movimentos da ave.

Mas, lá fomos tentando aproveitar as hipóteses que se nos deparavam, escolhendo as melhores poses da fêmea para disparar umas rajadas, procurando assim aumentar as probabilidades de obter algumas fotografias nítidas.

Entretanto, a luz ia aumentando e, pelas 9h, na 7D II, já se podia usar 3200 ISO e, pouco depois, 2500 ISO. As fotografias deveriam começar a ter maior qualidade.

Açor fêmea
Açor fêmea

Surge, no entanto, um problema. O vidro espelhado começou a embaciar de forma bem perceptível quando se olhava pelo visor da câmara e também quando olhávamos para as fotos que acabávamos de tirar. Procurámos agarrar um dos ventiladores na mão apontando-o directamente para o vidro, mas o problema, se era temporariamente aliviado, cedo se voltava a manifestar. Entretanto, com uma mão a segurar no ventilador, não se podia fotografar em condições. Foi um período de cerca de meia hora menos agradável, mas que passou. A luz que tinha aumentado consideravelmente, como o céu estava nublado, continuava suave e boa para se obterem fotografias sem sombras e com bom detalhe nas plumagens. Acabou por não chover e as nuvens até deram jeito proporcionando uma luz mais suave.

Procurámos aproveitar ao máximo todas as oportunidades, escolhendo as boas poses da ave e, também, tentando algumas fotografias de acção. Também fizemos alguns retratos.

Açor fêmea
Açor fêmea
Açor fêmea
Açor fêmea
Açor fêmea

Pelas 10h e 30m a fêmea tomou nas garras um bom pedaço de carcaça de perdiz e levantou voo.

Pensámos então que teria terminado a nossa sessão de fotos e que seria necessário voltar ao abrigo à tarde ou no dia seguinte se queríamos ter outras oportunidade de fotografar o macho. Entretanto, aproximava-se a hora em que esperávamos que o guia nos viesse recolher ao abrigo.

Mas, entretanto, ouvimos de novo a voz de um açor e pouco depois avistámos uma ave em voo que vem pousar nas proximidades, mas fora do nosso campo de visão.

Rapidamente enviámos um SMS ao guia para atrasar a nossa recolha. Foi uma boa decisão. Passados alguns minutos o macho baixou e passou a ser a sua vez de comer os restos da perdiz que tinham ficado e ainda eram bastante substanciais.

Açor macho
Açor macho

Pudemos desta vez desfrutar durante algum tempo da companhia do Açor macho e admirar a sua elegância e aspecto de força e de ferocidade. O olhar é penetrante.

Aqui ficam mais algumas fotos.

Açor macho
Açor macho
Açor macho
Açor macho
Açor macho
Açor macho

Pelas 11h 30m o Açor levantou, deixando-nos definitivamente.

Enviamos um novo SMS e, passado um quarto de hora, fomos recolhidos pelo nosso guia com a sensação de termos atingidos plenamente os nossos objectivos.

Chegados ao hotel esperava-nos um excelente almoço para comemorar. A tarde foi aproveitada para ver algumas das fotografias e avaliar da sua qualidade.

Agradecemos ao nosso guia o serviço que nos prestou e com o qual ficámos muito satisfeitos.

De facto, sem ele, teria sido muito difícil observar e fotografar a curta distância esta magnífica espécie, tão pouco frequente e tão esquiva.

7 comentários em “6. Monografia – O Açor”

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