7. Técnica – Primeiras experiências com a Canon EOS R5

Como já por aqui dissemos, somos utilizadores da Canon desde há muitos anos. Para que exista compatibilidade com as lentes e outro equipamento, temos de nos manter fieis à marca. Temos seguido, pela net e em revistas da especialidade, alguns desenvolvimentos da tecnologia que vêm a apontar no sentido de um progressivo avanço das câmaras”mirrorless”. Estas começam, de facto, a apresentar algumas vantagens sobre as nossas fiéis DSLR. No fundo, trata-se de substituir um funcionamento mais mecânico por um mais electrónico. Por múltiplas razões, é uma tendência irreversível, tanto em fotografia como em muitas outras áreas.

Quando começaram a ser conhecidas as especificações técnicas da nova Canon EOS R5, pensámos que tinha chegado o momento de arriscar a mudança. Já temos esta câmara há umas semanas e estamos em fase de poder transmitir as primeiras impressões e de relatar como as novas características da câmara vêm alterar os nossos procedimentos usuais.

Trata-se de uma Canon EOS, com tudo aquilo a que estamos habituados nos locais a que estamos habituados (ou quase). Podemos pegar na câmara e fotografar desde o primeiro minuto. Há, no entanto, muitas coisas novas e diferentes. Quando adquiríamos uma nova DLSR, levávamos cerca de dois dias a familiarizar-nos com a câmara e a efectuar os ajustes ao nosso gosto. Nesta “mirrorless” levei uma semana e ainda estou a alterar algumas coisas, tendo em conta as primeiras experiências.

Em primeiro lugar há um novo sistema de visor a que devemos habituar-nos. Não foi difícil. É extremamente nítido e claro, em especial em situações de pouca luz. Não conseguimos sentir a existência de um atraso entre o que ocorre e o que se vê. Além disso é agradável não haver obstrução da visão quando disparamos. A informação apresentada no visor é completíssima e de compreensão imediata.

Para quem está habituado à EOS 5D IV ou à EOS 90D nota-se que o disparo é muito mais silencioso. Pode mesmo ser totalmente silencioso se escolhermos utilizar o obturador electrónico. Até agora, estamos a usar sempre o obturador com primeira cortina electrónica. Haveria aqui muito a dizer sobre os aspectos técnicos desta escolha mas não nos queremos alongar em excesso.

Para a fotografia de aves costumamos usar as DSLR em modo Av, isto é com prioridade à abertura, o que nos permite ajustar muito rapidamente a profundidade campo à medida das necessidades do instante.

As EOS “mirrorless” têm uma nova opção, o modo Fv (Flexible value), que é extremamente versátil, substituindo os modos Tv, Av, Manual e Auto. Permite efectuar ajustes com grande rapidez.  Neste modo Fv existe uma opção “auto”  para abertura, velocidade e sensibilidade. Um selector de controlo rápido, muito acessível junto ao nosso polegar, permite escolher qual destes ajustes é efectuado pelo selector usual junto ao disparador e qual o que fica para a habitual roda na parte de trás da câmara.

Nós usamos este modo Fv de forma a que ajustamos a abertura com o selector do indicador como se estivéssemos em Av. Mas, assim, torna-se muito mais rápido fazer qualquer outra modificação de ajustes, sensibilidade ou velocidade, por exemplo.

Uma característica interessante nesta EOS R5 é a capacidade de sistema de auto-foco detectar animais, designadamente aves, e focar com precisão nos seus olhos. Se esta função for eficiente pode ser de extrema utilidade para a fotografia de aves.

Testámos o sistema em casa com imagens de aves e funcionava muito bem. A primeira experiência em condições reais, em fotografia de abrigo, não foi tão convincente. Nalguns casos o sistema era algo lento e hesitava entre a ave e um ramo que por ali estivesse. Era também difícil de emendar, originando perda de oportunidades.

Pensamos ter agora encontrado a solução mais adequada para a nossa utilização. É a que vamos descrever seguidamente.

Nas DSLR, usamos desde há muito tempo, o sistema de focar com o botão  AF-ON na parte de trás da câmara.

Ajustámos a R5 para funcionar também do mesmo modo.

Além disso, seleccionámos o botão ao lado deste, assinalado com um asterisco *, para efectuar a focagem no olho.

Ficamos assim com duas opções permanentemente ao nosso dispor. Usar para focar o botão a que estamos habituados para focar, por exemplo, um poleiro e usar o botão * para focar e seguir os olhos da ave que por lá andar.

Atenção: é necessário lembrarmo-nos de seleccionar animais e não pessoas no Menu Magenta. O esquecimento de registar essa escolha pode trazer grandes problemas. A focagem automática no olho continua a funcionar mas de forma muito ineficiente e não é fácil perceber imediatamente porquê.

Uma outra característica desta EOS R5 que poderá ser interessante para a fotografia de aves é a possibilidade de filmar vídeos com resolução suficiente para podermos extrair fotografias com boa qualidade de imagem Essa selecção pode mesmo ser feita na própria câmara.

A EOS R5 é relativamente compacta e leve o que pode ser uma vantagem para algumas utilizações. Para nós não é importante, tendo em consideração o tamanho das objectivas que utilizamos. Por isso, estamos a utilizar a câmara com o punho de baterias o que a torna mais pesada e volumosa.

Continuamos a utilizar esta câmara com as objectivas que já usávamos, designadamente as Canon EF 500mm e EF 100-400mm e as Sigma 150-600mm e 100-400mm. O adaptador de lentes EF para R é muito sólido e funciona optimamente. Connosco fica sempre na máquina, visto que não temos qualquer objectiva de baioneta R.

O punho ajuda não só a equilibrar melhor a máquina com as objectivas, mas também aumenta para o dobro a autonomia das baterias que, nesta câmara, é muito menor do que nas DSLR.

Com a objectiva Sigma 100-400mm, que é relativamente compacta, o conjunto com a câmara e punho fica bem equilibrado, é de muito fácil manuseamento sem tripé e nota-se imediatamente a eficiência do estabilizador de imagem na câmara, conseguindo-se excelentes imagens com exposições relativamente longas para estas distâncias focais.

Nesta câmara continuamos a utilizar o procedimento a que já estamos habituados de ter  os ajustes básicos registados nos modos personalizados C1 a C3. Antes de uma sessão de fotografia seleccionamos e registamos estas configurações de acordo com o que esperamos vir a encontrar. No modo C1 registamos as configurações para fotografar aves pousadas; no modo C2 as configurações para aves em voo ou imagens de acção rápida; no modo C3 registamos uma outra configuração que depende das nossas previsões daquilo que pensamos vir a encontrar.  Estes ajustes servirão de base para configurar rapidamente a câmara no início da sessão ou quando as condições se alterarem, por exemplo para passar de fotografia de aves pousadas para aves em voo ou vice-versa. Estes ajustes vão sendo modificados durante o decorrer da sessão conforme as condições que vamos encontrando na realidade.

Actualmente na EOS R5 temos as seguintes escolhas:

C1 – Fotografia de aves pousadas

Fv com ajuste da abertura no selector principal e compensação da exposição na roda de trás;

Abertura f8.0, ISO 640, Velocidade auto; sem correcção de exposição; medição matricial; AF SERVO;

Desempenho do visor económico;

Auto-foco no ponto central com o botão AF-ON;

Auto-foco nos olhos da ave com o botão * ;

Disparo de rajada H+.

 

C2 – Fotografia de aves em voo ou em acção rápida

Fv com ajuste da abertura no selector principal e compensação da exposição na roda de trás;

Abertura f8.0, ISO 1600, Velocidade auto; sem correcção de exposição; medição matricial; AF SERVO;

Desempenho do visor fluido;

Auto-foco na zona central de 9 pontos com o botão AF-ON;

Auto-foco nos olhos da ave com o botão * ;

Disparo de rajada H+.

 

C3 – Para uma situação diferente e inesperada

Fv com ajuste da abertura no selector principal e compensação da exposição na roda de trás;

Abertura Auto, ISO Auto, Velocidade auto; sem correcção de exposição; medição matricial; AF SERVO;

Desempenho do visor económico;

Auto-foco no ponto central com o botão AF-ON;

Auto-foco nos olhos da ave com o botão * ;

Disparo de rajada H+.

 

Vou tentar justificar estas escolhas começando pelo modo C1.

Procuramos um modo que permita uma resposta muito rápida. É fundamental poder ajustar rapidamente a abertura de modo a procurar obter a profundidade de campo necessária para ter a ave toda bem focada e desfocar o fundo.

Nesta câmara uma sensibilidade de 640 ISO dá uma excelente qualidade de imagem e permite, em geral, uma velocidade suficiente para aves pousadas. Quando está escuro ou se há muito movimento aumentamos a sensibilidade.

Mesmo para aves pousadas, usamos AF SERVO porque as aves, muitas vezes, estão em troncos que balançam e/ou a mover-se constantemente. O O desempenho de visor ajustado para económico parece suficiente para este tipo de imagens.

Podemos usar a rajada rápida sem problemas porque a câmara é bastante silenciosa.

Em aves com zonas brancas damos uma correcção de exposição de menos um ou dois terços para evitar “queimar” os brancos.

A focagem no botão AF-ON permite pré focar e disparar imediatamente quando há uma pose ou um movimento que nos interessam captar, sem que a câmara gaste tempo a focar. A focagem no olho da ave permite manter a ave bem focada evitando a tendência que por vezes surge de a câmara focar o poleiro e não a ave.

O modo C2 é muito semelhante mas aumenta a sensibilidade para garantir uma velocidade do obturador que “congele” melhor a acção.

Para captar movimentos rápidos penso que o desempenho do visor deve ajustado se ajustado para fluido para conseguirmos seguir a acção o melhor possível.

A experiência mostra que é mais fácil seguir as aves em voo e as cenas de acção quando se usa a zona central e não apenas o ponto central para focar.

O modo C3 foi escolhido como o que nos pareceu o modo mais rápido de, mantendo alguns ajustes básicos usuais, ter imediato controlo dos ajustes de exposição.

Nas nossas DSLR anteriores (excepto na 90D) existiam dois cartões de memória com velocidades de gravação e capacidades comparáveis. Utilizávamos nessas câmaras os dois cartões, em sequência automática, gravando em RAW e em JPEG. Na R5 existe um cartão CF Express e um cartão SD II. As velocidades de gravação e as capacidades são muito diferentes, sendo o CF Express muito mais rápido. Por isso, estamos a utilizar o cartão CF Express para gravar as imagens em RAW e o SD para gravar em JPEG.

6. Técnica – Vamos evoluindo !

 

Já lá vão três anos desde que escrevemos o artigo sobre técnica “Como ajustar a câmara”. Parece ser boa altura para apresentarmos um novo artigo, com uma descrição mais actual dos procedimentos técnicos que adoptamos para a fotografar aves.

Vamos optar por um estilo algo coloquial e deixar as ideias aparecer como as cerejas, sem grande preocupação de ordem e sistematização.

Para equipamento digital, três anos é muito tempo. Entretanto apareceram novas câmaras, surgiram novas modas e criaram-se novos hábitos.

Nós também mudámos e alterámos um pouco os nossos métodos de fotografar, passando a recorrer com mais frequência a abrigos profissionais. Isso foi tido em linha de conta na escolha de uma nova câmara.

Um enorme bando de estorninhos sobrevoa uma lagoa em El Taray. Foto realizada a partir de abrigo para grous.

Pensámos que, para a fotografia de abrigo, em que estamos em geral perto das aves, o aumento de “alcance” proporcionado pelo formato do sensor APS-C não seria uma grande vantagem. Poderíamos portanto optar por uma câmara “full frame” e aproveitar a melhor qualidade de imagem, especialmente nas sensibilidades elevadas. Teríamos de continuar na Canon, para manter a compatibilidade de equipamento e também para não ter de alterar os nossos hábitos de trabalho. A escolha foi fácil e recaiu sobre a Canon EOS 5 D IV.

Passámos, portanto a utilizar a EOS 5 IV conjuntamente com a EOS 7D II. Geralmente utilizamos a 5D IV com a objectiva Canon EF 500mm F4, por vezes com tele-conversor. Na 7D II montamos uma Sigma 150-600 C. As duas câmaras têm comandos muito semelhantes, o que nos facilita muito a vida. Na fotografia de abrigo, em que esperamos que as aves apareçam muito próximo, não utilizamos a 500mm. Em muitos desses casos, as aves vêm poisar a uma distância que é inferior ao limite de focagem da nossa EF 500 mm F4. Nestes casos, a objectiva Sigma 150-600 mm passa para a 5D e a 7D é equipada com uma Canon 100-400 mm que temos há muitos anos e que continua a cumprir as suas obrigações.

Um Pisco-de-peito-ruívo vem poisar sobre a cobertra do vido do abrigo, a meio metro de nós. Muitas vezes vêm mesmo junto ao vidro onde admiram o seu reflexo. Fotografia com o telémovel.

Antes de sair para fotografar, geralmente de véspera, introduzimos algumas alterações nos registos personalizados de ajustes C1 a C3 das duas câmaras. Temos em atenção aquilo que esperamos vir a encontrar no início da sessão fotográfica do dia seguinte.

É frequente, por exemplo, saber que a sessão vai começar muito cedo, ainda com pouca luz, porque se trata de espécies madrugadoras (açor, pica-pau-preto, etc.). Nestas condições convém ter as câmaras previamente ajustadas. Não é cómodo estar a proceder a todos os ajustes, ainda de noite cerrada, num abrigo acanhado em que não se podem usar luzes.

Sierra de San Pedro, abrigo para Águia-de-Bonelli. Á hora em que chegamos ao abrigo ainda está muito escuro. Fotografia de telemóvel

Uma outra questão a ter em conta para o inicio da sessão é o ruído da câmara a disparar. Para aves muito sensíveis ao ruído, pode ser útil começar com as câmaras em modo silencioso, uma possibilidade que actualmente existe nas nossas duas câmaras e que permite reduzir muito o ruído de disparo à custa da redução no ritmo da rajada.

Os ajustes que escolhemos para as duas câmaras são diferentes. Na 5D, com sensor “full frame”, é preciso fechar um pouco mais o diafragma para conseguir focar toda a ave quando ela está muito perto. A 7D, com sensor APS-C, tem maior profundidade de foco para a mesma abertura. Além disso, podemos utilizar sensibilidades com maiores valores de ISO na 5D do que na 7D, uma vez que, nesta última, é maior o ruído digital nas sensibilidades elevadas.

Fotografando uma Águia-de-Bonelli a partir de abrigo em Atenor, Trás-os-montes. Fotografia realizada com o telemóvel

Continuamos a usar as câmaras preferencialmente no modo Av (prioridade à abertura), sendo a abertura ajustada directamente pela comando rotativo junto ao botão de disparo que é facilmente manobrado pelo indicador ou dedo médio. Este procedimento permite uma resposta muito rápida ajustando a abertura, de foto para foto, conforme precisamos de menor ou maior profundidade de campo (vários planos) ou, ainda que indirectamente, de menor tempo de exposição (sujeitos em movimento).

Já houve um tempo em que quem não fotografava em modo completamente manual era considerado um incompetente fotográfico. Pensamos que a experiência terá demonstrado que, na maioria dos casos, não será esse o método mais rápido de conseguir ajustar adequadamente a câmara para fotografar aves na natureza.

Mais recentemente, surgiu a moda de fotografar em manual utilizando o ISO automático. Temos lido em várias revistas alguns fotógrafos profissionais a defender este método.

A ideia parece boa, e permite, de facto, uma resposta muito rápida. Consideramos que pode ser uma solução adequada para quem está a usar a câmara segura na mão. Mas, no caso de usarmos a câmara no tripé, podemos facilmente adoptar obturadores mais lentos, eu diria mesmo, muito mais lentos do que a regra do inverso da distância focal (fotografar no mínimo a 1/500 com uma lente de 500mm). Ora, as câmaras não sabem que estamos a utilizar tripé e, se estivermos a usar o ISO automático, seleccionam valores de ISO muito superiores ao que seria necessário. Vamos por isso, obter fotos com menor qualidade de imagem do que se seleccionarmos o ISO manualmente e usarmos o modo Av para manter as reacções rápidas.

A única altura em que usamos o ISO automático é no início de sessões com muito pouca luz em que precisamos de uma resposta muito rápida nas espécies que surgem logo nas primeiras luzes do dia, numa hora em que a luminosidade se modifica muito em pouco tempo.

Depois dessas horas, à medida que vamos tendo mais luz, ajustamos a sensibilidade para um valor de ISO que garanta boa qualidade de imagem com os ajustes de exposição que pretendemos. Para não estar sempre a refazer os ajustes, de tempos a tempos, gravamos as nossas escolhas nos registos C1 a C3.

Na posição C1 registamos os ajustes para fotografar as aves poisadas e com pouca acção (baixa sensibilidade, privilegiando a qualidade de imagem, focagem no ponto central). A posição C2 é para as aves em voo ou que estando poisadas estão com muita acção (maior sensibilidade maior velocidade do obturador, foco numa zona estendida). Na posição C3 registamos usualmente, ajustes semelhantes a C1 ou a C2 mas com algumas diferenças que as circunstâncias levem a prever como úteis, modo silencioso, por exemplo.

A alteração de C1 para C2, e vice versa, é quase instintiva e pode ser feita nuns segundos.

Juntamente com o modo Av, utilizamos muito frequentemente a compensação de exposição, que introduzimos com o comando na parte posterior das câmaras. Alguns exemplos de casos em que pensamos que esses ajustes são fundamentais:

  1. para evitar “queimar ” os brancos na plumagem das aves com luz directa (correcção para);
  2.  para “abrir” os negros na plumagem das aves dessa cor ou semelhante (correcção para +);
  3.  para compensar fundos muito claros ou muito escuros, o sentido da correcção depende do que se pretende obter na fotografia em relação à exposição para a ave e para o fundo.
Abrigo de Melro-de-água, um caso em que tivemos de fazer fotografia de acção com pouca luz. Fotografia efectuada com o telemóvel

Trabalhamos sempre em RAW + JPEG. O JPEG permite-nos  identificar e seleccionar facilmente as imagens que nos interessam, mesmo com software que não “entenda” o RAW. Consideramos que registar sempre em RAW é fundamental, não só para corrigir algumas imperfeições na exposição, mas fundamentalmente, para conseguir extrair duma imagem tudo aquilo que ela nos pode dar.

Utilizamos cartões de memória de 128 Gbytes. Parece ser uma capacidade suficiente para evitar estarmos sempre a mudar de cartões. Todos sabemos que a mensagem “full card” aparece muitas vezes quando estamos a fotografar uma cena de acção interessante que não gostaríamos de perder. No entanto, pensamos que com as nossa câmaras actuais, utilizar cartões com ainda mais capacidade, corresponderia a “pôr todos os ovos no mesmo cesto”.

Utilizamos a mudança automática de cartão e não fazemos duplicado nas câmaras. Em 16 anos de fotografia digital, com muitos e muitos milhares de fotos, nunca nos falhou um cartão. Usamos cartões rápidos de marcas tidas como reputadas.

Só em casa fazemos a transferência para computador e, depois de eliminarmos a maior parte das fotos inúteis (sempre muitas), fazemos dois backups e formatamos os cartões para utilização posterior.

Ainda que nunca nos tenha falhado nenhum cartão, já tivemos problemas para recuperar imagens. Foi, ao fazer uma daquelas coisas que digo sempre que se devem evitar: apagar imagens na câmara. Apanhámos um susto, porque algumas das imagens que apaguei por engano eram importantes. No entanto, tudo se resolveu com facilidade utilizando um programa adequado que obtivemos gratuitamente pela net.

Recentemente têm vindo a estar disponíveis, por vezes a preços acessíveis, máquinas de grande qualidade de sistema não reflex DSLR (Digital Single Lens Reflex). A ideia é simples e correcta. Se eliminarmos a necessidade do visor óptico e do espelho que usamos nas DSLR para vermos a imagem através da lente, podemos conceber máquinas mecanicamente muito mais simples e, portanto, mais rápidas, mais pequenas e mais baratas. Há também uma possibilidade interessante de conseguir ópticas com melhor desempenho, menores dimensões e/ou mais baratas.

Pensamos que vai ser esse o caminho e que as máquinas “mirrorless” (sem espelho) vão no futuro substituir com vantagem as “DSLR”. Pensamos que isso irá ocorrer dentro de um prazo relativamente curto. Já é um facto para a fotografia de paisagem. Provavelmente será também verdade, dentro de pouco tempo, para quase todos os outros tipos de fotografia, incluindo a fotografia de desporto e a da vida selvagem.

Ainda não tivemos oportunidade de experimentar nenhum desses sistemas numas sessões de fotografia de aves. Ainda assim, apenas pelas especificações técnicas e pelos testes que temos lido, podemos atrever-nos a afirmar que as “mirrorless” estarão quase lá, mas ainda não chegaram a ultrapassar as DSLR para este tipo de fotografia..

No entanto, as possibilidades futuras já vão estando à vista e são impressionantes. Por exemplo, uma máquina actualmente existente, de formato 4/3, de uma marca de excelente qualidade e tradição, permite activar o registo de imagens em sequência rápida num “buffer”, mesmo ainda antes de premirmos o disparador. Quando disparamos, a máquina regista as 35 imagens “ANTERIORES” e as 64 posteriores ao disparo.

Quer isto dizer: poderemos vir a acabar com as muito interessantes fotos, que todos tão bem conhecemos, do poleiro vazio, de onde a ave acabou de sair. Poderemos seleccionar facilmente de entre as múltiplas imagens de que passaremos a dispor, de modo totalmente automático, quase sem possibilidade de falha, das várias fases de uma ave a levantar voo.

Este é apenas um exemplo do que estas câmaras poderão vir a fazer num futuro próximo e que seria, evidentemente, impossível com uma DSLR (não havia mecanismo de disparo mecânico que tolerasse estar, digamos 10 minutos, a fotografar a 20 ou 30 imagens por segundo).

Vamos portanto esperar. Achamos que já faltará pouco.

12. Monografia – Os Chapins

Em Portugal designamos por Chapins um conjunto de espécies de pequenas aves, algumas delas muito comuns, de aspecto geralmente rechonchudo e com o bico curto.

Não correspondem a uma única família ou género na classificação científica da ordem dos passeriformes, ainda que muitos pertençam à familia paridae.  São apenas uma designação da linguagem comum, tanto em português como no inglês “Tits”. Já em espanhol não existe uma palavra que englobe todos os nossos chapins.

Têm um comportamento irrequieto  e é comum encontrá-los em posição invertida pendurados de patas para o ar ou noutras posições acrobáticas.

São das aves mais fáceis de ver e de fotografar. A maior dificuldade resulta talvez de estarem sempre em movimento saltitando constantemente de ramo para ramo.  São aves que frequentam os bosques e as zonas arborizadas, com excepção do Chapim-de-mascarilha e do Chapim-de-bigodes que preferem os caniçais.

Em Portugal temos seis espécies de Chapins:

Chapim-azul – cyanistes caeruleus;

Chapim-real – parus major;

Chapim-de-poupa – lophophanes cristatus;

Chapim-carvoeiro – periparus ater;

Chapim-de-mascarilha – remiz pendulinus;

Chapim-rabilongo – aegithalos caudatus;

Em Espanha podem observar-se mais duas espécies:

Chapim-palustre – poecile palustris;

Chapim-de-bigodes – panurus biarmicus.

Chapim-azul

O Chapim-azul, Blue Tit, herrerillo común – cyanistes caeruleus, identifica-se facilmente pela por uma mancha azul no topo da cabeça, corpo amarelado e asas azuladas.  Tem cerca de 11 cm de comprimento.

Os sexos são quase idênticos, com o macho de colorido um pouco mais vistoso.

Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Chapim-azul
Casal de Chapim-azul

Chapim-real

O Chapim-real, Great Tit, carbonero común, parus major, como o nome indica é o maior dos nossos chapins, com cerca de 14 cm de comprimento.

Peito amarelo com barra central preta, cabeça preta e branca e dorso esverdeado. A barra central preta é mais larga nos machos.

Chapim-real
Chapim-real
Chapim-real
Chapim-real
Chapim-real
Chapim-real
Chapim-real
Chapim-real

Chapim-de-poupa

O Chapim-de-poupa, Crested Tit, herrerillo capucino, lophophanes cristatus é um residente comum. Trata-se de um pequeno chapim, com cerca de 11 cm de comprimento, que é facilmente reconhecível por ostentar uma poupa em bico. De destacar os característicos olhos vermelhos e pretos.

Chapim-de-poupa
Chapim-de-poupa
Chapim-de-poupa
Chapim-de-poupa
Chapim-de-poupa
Chapim-de-poupa

Chapim-carvoeiro

Com a cabeça preta com uma coroa branca e de cor pardacenta, tem  cerca de 11 cm de comprimento. O Chapim-carvoeiro, Coal Tit, carbonero garrapinos, periparus ater  é um residente comum.

Chapim-carvoeiro
Chapim-carvoeiro
Chapim-carvoeiro
Chapim-carvoeiro
Chapim-carvoeiro

Chapim-rabilongo

Chapim-rabilogo, Long-tailed Tit, mito común, aegithalos caudatus, é um chapim que se destaca pela cauda muito longa, que é mais comprida que o resto do corpo. No total tem 14 cm de comprimento. Visto de perto sobressai uma “sobrancelha” amarela. É um residente comum que frequenta, em pequenos grupos, as zonas arborizadas.

Chapim-rabilongo
Chapim-rabilongo
Chapim-rabilongo
Chapim-rabilongo
Chapim-rabilongo

Chapim-de-mascarilha

Chapim facilmente reconhecível pela mascarilha preta, maior e mais escura no macho do que na fêmea. O Chapim-de-mascarilha, Peduline Tit, pájaro moscón, é um habitante dos caniçais e da vegetação à beira dos pântanos, mas que necessita de aceder a árvores para construir os ninhos em forma de bolsa.

Tem cerca de 11 cm de comprimento. É um invernante pouco comum em Portugal.

Chapim-de-mascarilha macho

Chapim-de-mascarilha macho
Chapim-de-mascarilha macho
Chapim-de-mascarilha macho
Chapim-de-mascarilha macho

Chapim-palustre

Chapim-palustre, Marsh Tit, carbonero palustre, poecile palustris, é uma espécie de chapim que não existe em Portugal. Em Espanha é um residente relativamente comum na zona norte.

É semelhante ao chapim-carvoeiro, mas de cor mais cinzenta, sem a zona branca no meio da mancha negra da cabeça e com um “babette” menor. É extremamente irrequieto.

Chapim-palustre
Chapim-palustre
Chapim-palustre
Chapim-palustre
Chapim-palustre
Chapim-palustre

Chapim-de-bigodes

Uma outra espécie que não existe em Portugal e é pena. Trata-se de uns passarinhos engraçadíssimos. O Chapim-de-bigodes, Bearded Tit, bigotudo, panurus biarmicus tem um comprimento de cerca de 13 cm, isto é de dimensões ligeiramente menores que o chapim-real mas tendo uma cauda maior. De tons cinzento, laranja, castanho, preto e branco; tem olhos amarelos e pretos e o macho apresenta um grande bigode preto, que dá origem  ao nome. A fêmea não tem o bigode e tem um colorido mais discreto. Saltitam permanentemente nos caniçais onde habitam, chegando e partindo, por revoadas e pousando nos caniços em posições acrobáticas muito carcterísticas. É uma pequena ave espectacular.

Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho juvenil
Chapim-de-bigodes fêmea
Chapim-de-bigodes fêmea
Chapim-de-bigodes macho
Retrato de um Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes macho
Chapim-de-bigodes fêmea
Chapim-de-bigodes fêmea
Chapim-de-bigodes macho

11. Monografia – Pica-paus e Torcicolo

Em Portugal há três espécies de pica-paus:

Peto-real-ibérico – Picus sharpei

Pica-pau-malhado – Dendrocopos major

Pica-pau-galego – Dryobates minor.

Em Espanha há mais três:

Picamaderos negro – Dryocopus martius

Pico-mediano – Dendrocopos medius

Pico dorsiblanco – Dendrocopos leucotos, que é uma espécie muito pouco comum, com uma população de cerca de uma centena de casais que habitam alguns bosques na região do Pirinéu navarro.

Da mesma família dos Piciformes, Picidae, existe também, tanto em Portugal como em Espanha, o Torcicolo – Jynx torquilla.

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10. Monografia – Os Tartaranhões

Os Tartaranhões são aves de rapina elegantes de médio porte. São pequenas águias ou aguiluchos como dizem em Espanha. São aves da família das acccipitriformes e do género circus. Tendem a caçar voando, por vezes a baixa altitude ou junto ao solo, com as asas com as pontas levantadas formando um V.

Em Portugal temos:

  • Circus aeruginosus – Tartaranhão-ruivo-dos-pauis ou Águia-sapeira (aguilucho lagunero);
  • Circus pygargus – Tartaranhão-caçador ou Águia-caçadeira (aguilucho cenizo).
  • Circus cyaneus – Tartaranhão-cinzento (aguilucho pálido);

Também ocorre por vezes o circus macrourus – Tartaranhão-pálido (aguilucho papialbo).

Águia-sapeira

É o maior dos nossos Tartaranhões com até 135 cm de envergadura.

Com claro dimorfismo sexual, os machos são tricolores, castanho, cinzento e preto. Têm os olhos de um amarelo vivo. As fêmeas e os juvenis são cor de chocolate com zonas da cabeça brancas ou amareladas.

Águia-sapeira macho
Águia-sapeira fêmea

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9. Monografia – Águia-calçada

A  Águia-calçada deve o seu nome ao facto de ter as patas cobertas por uma espessa plumagem.

Águia-calçada

Os nomes em inglês, francês  e espanhol têm o mesmo significado: Booted Eagle, aigle botté e aguililla calzada. A designação científica é Hieraaetus pennatus.

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8. Monografia – Coraciformes: Guarda-rios, Abelharuco, Rolieiro e Poupa (actualizada em 12-08-2018)

A ordem dos Coraciformes agrupa quatro espécies de aves que são das mais coloridas e vistosas da nossa região:

  • O Guarda-rios alcedo atthis;
  • O Abelharuco merops apiaster;
  • O Rolieiro coracias garrulus;
  • A Poupa upupa epops.

 

 

8.1 – O Guarda-riosalcedo atthis

Guarda-rios fêmea

O Guarda-rios – alcedo atthis é uma das espécies de aves que é conhecida na linguagem comum por muitos nomes. Pica-peixe, Martinho-pescador, Rei-do-mar, Bordaleiro, Juiz-do-rio, Raio-azul, são alguns deles. Continuar a ler “8. Monografia – Coraciformes: Guarda-rios, Abelharuco, Rolieiro e Poupa (actualizada em 12-08-2018)”

7. Monografia – Os Milhafres (actualizada em Novembro de 2017)

Na Península Ibérica há duas espécies de milhafre, o Milhafre-preto (milvus migrans) e o Milhafre-real (milvus milvus). São duas espécies de aves de rapina com aspecto semelhante mas comportamento sazonal diverso. O Milhafre-preto é estival com uma população em Portugal que se estima em 800 a 1600 casais, sendo raros os exemplares que se avistam no inverno. O Milhafre-real tem uma pequena população residente (50 a 100 casais nidificantes em Portugal) que é aumentada durante o Inverno com migrantes oriundos da Europa Central.

Milhafre-preto
Milhafre-real

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6. Monografia – O Açor

Optámos nesta Monografia um estilo algo diferente do usado nas anteriores, realçando a nossa experiência durante a tomada de fotos no abrigo.

No ano de 2016 o nosso primeiro objectivo, no que respeitou a fotos de abrigo, foram o Peto-real, Pica-pau-malhado-grande, Pica-mau-médio e, também, o Dom-fafe. Esta missão fotográfica serviu ainda de pretexto para visitar os Picos da Europa e arredores, que estavam magníficos, com muitíssima neve. Seguiram-se o Quebra-ossos, em Buseu, perto de Lérida e as Gangas e Cortiçóis, em Belchite, perto de Saragoça.

Procurámos depois fotografar as grandes águias peninsulares. Conseguimos bons resultados com a Águia-imperial, a Águia-real e a Águia-de-Bonelli.

Com estas etapas cumpridas, estabelecemos como objectivo seguinte o Açor.

Açor macho

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5. Técnica – Quais as aves mais difíceis e quais as mais fáceis de fotografar?

Quais são as espécies de aves mais difíceis e quais são as mais fáceis de fotografar na nossa região?

Esta pergunta, muito usual, pode ter muitas respostas. Há opiniões. Aqui ficam algumas ideias e sugestões. Mas, quem disser o contrário do que eu digo pode também ter muita razão.

Devemos em primeiro lugar considerar que as respostas podem ser diferentes se estivermos a considerar fotografias de primeiros planos com boa qualidade ou simplesmente registos fotográficos de fraca qualidade, que apenas permitem identificar a espécie e servir de prova do seu avistamento.

Além disso, o grau de dificuldade varia de região para região e, portanto, de pessoa para pessoa. É diferente viver num apartamento em Lisboa ou numa casa onde os papa-figos ou o bico-grossudo frequentam o quintal.

Ainda assim, há uns princípios gerais que poderemos ter em conta.

 

5.1 As mais difíceis

De um modo geral as aves mais difíceis de fotografar são as mais raras, as mais desconfiadas e esquivas e também as mais bem camufladas e/ou de hábitos mais discretos.

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