Na Europa existem quatros espécies de abutres. O mais vulgar é o Grifo (Gyps fulvus) que atinge 2,65m de envergadura e 10kg de peso. O maior é o Abutre-preto (Aegypius monachus) com 2,85m de largura de asas e chegando aos 12,5kg. O Britango ou Abutre-do Egipto (Neophron percnopterus) é o mais pequeno, com apenas 1,70m e 2,4kg.
O Quebra-ossos ou Brita-ossos (Gypaetus barbatus) não sendo dos mais pesados (6,6kg) tem uma das maiores envergaduras, atingindo 2,75m. Tem, por isso, um voo rápido com uma silhueta elegante.
Na classificação científica o Gypaetus barbatus pertence à familia accipitridae, a que pertencem também as águias, os milhafres, o gavião, o açor, o peneireiro-cinzento e os outros abutres.
O nome científico Gypaetus barbatus significa algo como abutre-águia barbado. Os nomes vulgares em várias línguas adoptam três linhas diferentes. Uma, que segue a designação latina, relacionada com seu aspecto devido às penas formando uma espécie de “barba” abaixo do bico. É assim chamado em inglês Bearded vulture ou em francês Gypaète barbu. Outra linha, que usa designações como a portuguesa Quebra-ossos ou análogas. Refere-se ao hábito que os indivíduos desta espécie têm de pegar nalguns ossos maiores, que tem dificuldade em engolir inteiros, e de os transportar em voo, seguros numa pata ou no bico, com o objectivo de os deixar cair sobre uma laje de rocha para procurar parti-los. Desta característica derivam os nomes em português Quebra-ossos ou Brita-ossos, em castelhano quebrantahuesos e em catalão trincalós. Existe ainda uma designação inglesa Lammergeier que deriva do alemão Lämmergeier com sentido “cordeiro-abutre”.
De facto, o quebra-ossos alimenta-se quase exclusivamente de ossos, não no sentido de comer a carne agarrada aos ossos ou o tutano, mas sim no sentido literal de comer os ossos propriamente ditos. A maioria destes é engolida inteira, sendo que o conseguem fazer com ossos de dimensões consideráveis. Por exemplo podem engolir pés de cabrito inteiros como se pode ver nas fotos abaixo.
A voz que emite, em geral em voo, é um som assobiado e estridente que pode ouvir-se clicando na seta abaixo.
Os Quebra-ossos jovens têm uma plumagem diferente da dos adultos e com as penas da cabeça pretas. Evoluem depois para a plumagem de adulto, com cabeça e pescoço esbranquiçados, mas que se tinge de uma cor ferruginosa devido à agua com que se banham. Vão também desenvolvendo progressivamente os “óculos” vermelhos tão característicos dos adultos.
Os quebra ossos juvenis e sub-adultos têm tendência para ser algo zaragateiros.
Na Península Ibérica o Quebra-ossos tem sido, até há pouco tempo, uma espécie ameaçada, com uma área de distribuição limitada aos Pirenéus. Recentemente têm sido feitos esforços de re-introdução na zona da Serra de Cazorla e nos Picos da Europa.
Em Portugal refere-se a existência do Quebra-ossos desde o século XVII. Terá existido até aos tempos do Rei D. Carlos, que terá mesmo abatido um ou dois indivíduos que existem actualmente nos museus de Coimbra. Desde os finais do século XIX que não se conhecem registos de ocorrência desta espécie. Sabe-se, no entanto, que um Quebra-ossos equipado com um emissor de localização por satélite terá sobrevoado Portugal, mas não foi avistado.
Os esforços de conservação e de reprodução em Espanha têm dado bons resultados. Esse esforços incluem o fornecimento de alimentação suplementar em comedouros, a reprodução em cativeiro, o seguimento de exemplares marcados e anilhados usando transmissores com localização por satélite. A alimentação complementar é fundamental; só com os restos de animais selvagens os abutres não poderiam actualmente sobreviver.
Os esforços de conservação em Espanha contam com apoios do estado e de várias organizações e, também, com o empenho de várias pessoas cujo esforço determinado tem permitido a sobrevivência desta espécie. É a eles que devemos a possibilidade de ainda podermos observar e fotografar estas aves magníficas.
Um agradecimento especial vai para Jordi Canut e para a sua mulher Ana, dinamizadores do Projecto Buseu, no Pirenéu Catalão. Mantêm no local um ponto de alimentação suplementar onde é possível observar e fotografar, em excelentes condições, as quatro espécies de abutres ibéricos e, em especial, o Quebra-ossos. É interessante referir que os ossos e restos de carne utilizados provêm de resíduos de talhos e da indústria local de enchidos. Sem a actividade de Jordi, estas empresas teriam de pagar a alguém para recolher e tratar estes resíduos. Os abutres ajudam a economia e cumprem a sua função ambiental de reciclagem dos restos de carne.
Bibliografia
Antonio Vázquez (2015) Buitres Ibéricos, Ediciones Trea, 277 pp.
Paulo Catry Helder Costa, Gonçalo Elias, Rafael Matias (2010) Aves de portugal. Ornitologia do Território Continental, Editora Assírio & Alvim, 941 pp.
Lars Svenson (2012) Guia de Aves – Guia de Campo das Aves de Portugal e da Europa, 2ª edição, Editora Assírio & Alvim, 443 pp.
Paulo Caetano (2005) Abutres de Portugal e Espanha, Editora Má Criação, 173 pp.
Very good site. Congratulations
Olá Amigos, ficámos maravilhados com as fotos e com toda a informação contida.
Vou apressar-me a dar conhecimento à nossa família, pois em especial o meu genro e neto são fãs da vida selvagem e a nossa filha mais nova é entusiasta da fotografia.
Ver-nos-emos em breve!
Parabéns e um abraço dos Rego´s
Obrigada por esta viagem maravilhosa
Se bem percebi a ganga fêmea é mais bonita que o macho?
Beijinhos
Mesmo agora tive o privilégio de ouvir a Luísa a falar destas aves e da vossa odisseia nos Pirenéus.
Adorei este vosso site.
É pá fotografias bestiais. E texto muito giro . Nada chato.
Estou fascinada com tanta beleza !!!!!
Olá a toda a gente,
Posso testemunhar por observação direta, 2018 verão, que existe pelo menos um casal com cria já grande num penedo no Douro português.
Obviamente fiquei muito feliz com a observação.
Para mais informações contactem-me.
Abraço a todos,
António Serrano